Adelino Leitão
O Homem
No dia 12 de Janeiro do ano de 1911, nasceu numa modesta casa situada no lugar da Serra, da freguesia de Lousado, uma criança do sexo masculino, a quem foi dado o nome próprio de Adelino, recebendo por acréscimo os apelidos de Leitão da Silva. Estes, naturalmente herdados dos seus progenitores.
Assim Adelino Leitão da Silva, de seu nome completo. Foram seus pais, Dinis da Silva e Maria Hermínia Pereira Leitão. Ele ferroviário de profissão e ela doméstica. O Adelino foi o primogénito de uma plêiade de seis descendentes deste modelar casal.

Seguidamente matriculou-se na Escola Faria Guimarães, da cidade do Porto, onde permaneceu dois anos, também com bom aproveitamento académico, findos os quais regressou à casa paterna. É então admitido na Companhia dos Caminhos-de-Ferro (antiga Norte de Portugal) como praticante técnico, ascendendo em pouco tempo (graças ao seu mérito pessoal) ao subido posto de Inspector do Material e Tracção.
Ao serviço desta companhia e com total agrado da sua Administração (mercê das suas altas qualidades profissionais e humanas) se mantém até ao ano de 1945, altura em que passa a estar ao serviço da grande empresa Mabor (Manufactura Nacional de Borracha). Empresa esta que veio a inaugurar as suas instalações fabris, em 6 de Abril de 1946. Ninguém, como Adelino Leitão da Silva, soube viver tão dedicadamente, tão apaixonadamente e tão entusiasticamente, a localização, a construção e a laboração desta grande empresa, que é fonte inesgotável de trabalho e de riqueza para a gente desta terra, desta região e desta Pátria. Só ele sabia o quanto com ela, por ela, e pela gente da nossa terra (especialmente) se alegrou e sofreu.
A sua obra
Começarei por lembrar a figura esguia, feita mais de pele e osso do que de carne, de Adelino Leitão da Silva, mas, repleta de juventude, de nervos e sadio entusiasmo. Conscienciosamente sabia o que queria e até onde podia chegar. Estou a vê-lo.
Era eu menino e moço, em cima da parede de resguardo do adro da nossa igreja! Era domingo! Havia terminado a celebração da missa dominical das 9 horas.
Ele tinha um livro debaixo do braço (era a legislação das Casas do Povo). Principiou por atrair as pessoas, fazendo imediatamente a apologia dos fins pelos quais as Casas do Povo haviam sido criadas. O auditório já preso e interessado, ouvia-se com visível satisfação.
Com a sua bem argumentada exposição conseguiu desde logo, número suficiente de pessoas para requerer a criação da Casa do Povo. Esta veio a ser criada pela concessão do alvará de 27 de Abril de 1937. São então formados os seus corpos gerentes. Como logicamente não podia deixar de ser, Adelino Leitão da Silva. É investido no lugar mais responsável (Presidente da Direcção ou Comissão Administrativa). Estão então reunidas as condições para o talentoso, entusiasta e inultrapassável bairrista, Adelino mostrar quem é, qual o seu valor.
E mostra-o efectivamente e muito rapidamente. Começa imediatamente a trabalhar no sentido de se construir a sede, o edifício físico deste organismo corporativo.
E trabalha com tanto entusiasmo e com tanto afinco, que o seu justo e legítimo anseio, veio a ser coroado de êxito.
Com a inauguração desta grande obra (ainda passados que já lá vão quatro décadas, consegue ser uma das melhores entre as suas congéneres existentes no distrito de Braga); observada em princípios de Junho de 1941. Este dia foi de festa e histórico para a nossa terra. A partir desta data, o progresso e o desenvolvimento desta ridente e hospitaleira freguesia, tomou um valor e imparável andamento, graças aos nervos, ao dinamismo e ao entusiasmo do Sr. Adelino.
Passado pouco tempo é eleito presidente da Junta desta freguesia.
Assim e durante vários anos serve, com a sua total entrega, sua amada terra – Lousado. Começa-se então a falar na construção da fábrica de pneus Mabor.
Adelino Leitão da Silva, tendo desse facto conhecimento, principia a andar numa roda-viva só consegue descansar, quando teve a certeza absoluta de que ela é construída na nossa terra.
Foi um dos principais obreiros desta fonte de riqueza e de progresso da nossa terra, não só na sua localização, mas ainda na sua construção. Assim, como o veio a ser para a localização e construção da nova fábrica Mabor (edifício) construído em fins da década de 70. Foi ele o comprador de todos os terrenos, o motor de arranque.
Lousado era até fins da década de 30, somente uma terra agrícola, tendo uma pequena oficina de reparação de material ferroviário que daria trabalho a cerca de 100 pessoas.
Tudo então faltava! Não havia estradas, nem escolas, nem luz pública, nem infra-estruturas de qualquer espécie. Adelino Leitão da Silva ao tomar conta do governo lousadense, parte quase do zero. Mas, como é dos que sabe o que quer e até onde pode chegar, mete-se decididamente e com todo o entusiasmo à obra e em pouco tempo, consegue fazer o que a tantos parecia impossível.
Assim, dotou a freguesia com amplas e espaçosas estradas, com funcionais e seguras pontes sobre o rio Pelhe; conseguiu que fosse dado à ponte da Lagoncinha a designação de «Monumentos Nacionais» e restaurá-la devida e convenientemente (estava em completo estado de ruína; dotou a freguesia de escolas; conseguiu a leitura de uma substancial captação de águas com as melhores qualidades potáveis, distribuindo-as seguidamente por toda a freguesia e ao domicilio, construindo ainda os fontanários públicos em quase todas as aldeias.
Empreendimento energético e audacioso para a época, pois vivia-se em tempo difícil, em que a industrialização estava, por assim dizer, a dar os seus primeiros passos, o comércio era em consequência desse facto, diminuto e por isso, não havia dinheiros.
O empreendimento era tão audaz, que haviam vilas e sedes de concelhos que ainda não usufruíam desse extraordinário beneficio!
Mas a gigantesca obra levada a cabo por Adelino Leitão da Silva, em favor de Lousado e da sua gente, não se circunscreve só ao que fica exposto, pois temos a nossa Igreja Paroquial inaugurada em 21-04-1961, a falar alto e em bom som, no seu altissonante nome, pois, pela sua actuação, tornou-se o seu principal obreiro. Outro tanto podemos e devemos dizer em relação à construção da residência paroquial. Mas se a sua ingente acção foi meritória e prestimosa neste campo, não o foi menor na preocupação e na busca do trabalho e do emprego para a gente da sua terra. A testá-lo estão várias indústrias por si fundadas, nomeadamente a Sotex, Tribor e ainda outras que por aqui dão trabalho a centenas de braços, por ele idealizadas e amparadas.
Poder-se-á dizer que terá realizado quase todos os seus sonhos aqui na terra. Porem haverá um que infelizmente a mercê dos acontecimentos de Vizela (levantamento da linha férrea) não conseguiu vê-lo consubstanciado.
Foi a realização da viagem do comboio histórico entre o Porto e Guimarães e vice-versa, comemorativo do centenário da constituição da sociedade ferroviária da linha Trofa – Fafe. Muito trabalhou para que esse acontecimento comemorativo fosse um facto de extrema grandeza.
Várias reuniões teve com os representantes das Câmaras Municipais de Fafe, Guimarães, Santo Tirso, V.N. Famalicão, Maia, Matosinhos e Porto.Todos estes municípios estavam envolvidos na realização destas comemorações. O dia chegou a estar posto.
Primeiro em fins de Julho e depois em Setembro. Os nefastos acontecimentos de Vizela, atrás referidos, alterou e fez suspender todo o programa idealizado.
Porque sou testemunha (assisti a varias reuniões) do quanto o Sr. Adelino sonhou e viveu com a passagem do comboio histórico, do Porto – Guimarães, imagino a sua natural dor, por não ter a possibilidade de ver o seu permanente sonho realizado.
Adelino Leitão da Silva, amou Lousado como mais ninguém o terá amado; esforçou-se pelo engrandecimento da sua amada terra como mais ninguém será capaz.
Assim, parafraseando um grande estadista inglês, que foi o histórico Churchil, direi com ele:
Nunca tantos lousadenses ficaram a dever tanto a um só lousadense, porque, na história de Lousado, um só fez tanto, por tantos. Oxalá depois da sua morte lhe saibamos ser gratos, honrando a sua augusta memoria, já que no decorrer da sua vida, infelizmente nem sempre essa circunstancia aconteceu.
Que estas despretensiosas letras (palavras) sejam outras tantas pétalas de flores a desflorar saudosa e sentidamente, sobre o seu tumulo.